segunda-feira, 7 de março de 2011

A teologia errada dos amigos de Jó (Jó 42.7)

“Tendo o SENHOR falado estas palavras a Jó, o SENHOR disse também a Elifaz, o temanita: A minha ira se acendeu contra ti e contra os teus dois amigos; porque não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó.” (Jó 42.7)

Nos posts anteriores temos abordado alguns pontos sobre a história de Jó. Os pontos tratados anteriormente foram os seguintes: (i) que Jó era um crente exemplar, com um caráter íntegro, mesmo tendo que sofrer provações e perdas; e (ii) que Deus foi soberano sobre todos os acontecimentos na vida de Jó, mesmo nos sofrimentos que ele teve que passar, também ali estava a mão de Deus controlando tudo com um propósito específico.

O seguinte ponto que queremos abordar neste estudo é sobre a teologia que se movia por trás dos pensamentos dos três amigos de Jó: Elifaz, Bildade e Zofar. Primeiro, é importante notar que na história também aparece um quarto personagem, Eliú, quem não é contado junto com os amigos de Jó e quem não é acusado de maldade no final da história. Sobre Eliú, pretendemos falar mais em estudos posteriores. Em segundo lugar, precisamos lembrar que o discurso deles tinha algo de errado, alguma coisa não estava certa naquilo que eles falavam e que consideravam como “palavras de sabedoria”, pois vemos também que no final da história, no capítulo 42 de Jó, o Senhor os acusa de terem falado mal dEle mesmo. Então, a nossa pergunta que tentaremos responder é a seguinte: O que tinha de errado o discurso dos amigos de Jó? Porque Deus os acusa de terem falado mal contra Ele mesmo?

Neste breve estudo não podemos apresentar todo o texto do discurso dos amigos de Jó. Portanto, recomendamos que, antes de analisar os pontos seja lido o discurso deles, que é apresentado ao longo de todo o livro de Jó. Neste estudo iremos diretamente à análise geral desses discursos. Nesses discursos podemos observar que os amigos de Jó buscam argumentar sobre as razões do sofrimento de Jó. Eles tentaram explicar o por que desse sofrimento e buscaram convencer a Jó, de maneira que a situação dele pudesse ser revertida a partir do entendimento de Jó da causa do seu sofrimento. É interessante notar que, em todos os discursos, os amigos de Jó não acusaram a Deus, mas a Jó. Eles acharam que quem é o culpado do sofrimento é Jó e que Deus é justo. Porém, Deus disse no final: “não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó (Jó.42.7)”. O Senhor considerou as acusações equivocadas dos amigos de Jó como acusações diretas a Ele mesmo e, portanto, acusou deles de terem falado mal. Como disse Paulo: “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica” (Rm.8.33).

Outro aspecto para observar é que os amigos de Jó, ao invés de consolarem ele, buscaram repreendê-lo e acusa-lo. Claro que, como a teologia deles não era correta (ainda veremos qual era a teologia deles), eles achavam que fazendo isto salvariam a vida de Jó. Mas Jó sentia a falta de consolo e empatia deles, e por isso lhes disse: “Ao aflito deve o amigo mostrar compaixão, a menos que tenha abandonado o temor do Todo-Poderoso. Meus irmãos aleivosamente me trataram; são como um ribeiro, como a torrente que transborda no vale...” (Jó 6.14-15). Eles estavam sendo severos demais com Jó e, além disso, precipitadamente, sem terem razoado e visto todas as possibilidades da causa do sofrimento de Jó. Eles não estavam agindo como no provérbio que diz: “Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão (Pv.17.17)”. Então este foi um primeiro grande erro deles: se apresarem a julgar a situação de Jó, ao invés de serem um consolo e apoio nessa situação tão terrível.

Ora, por que eles estavam agindo assim? Já disse antes: por causa da teologia que estava por trás dos pensamentos deles. E qual era essa teologia? A mesma que a de Satanás: a teologia da prosperidade e da retribuição terrena. O inimigo disse a Deus falando acerca de Jó: “Estende, porém, a mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema contra ti na tua face (Jó 1.11)”. Satanás cria que Jó servia Deus por causa dos bens que ele tinha, isto é teologia da prosperidade, pois coloca em primeiro lugar a Deus como alguém que satisfaz materialmente aos homens, com prosperidade, para que estes lhes sirvam. “Serve a Deus e ele te abençoará (materialmente)” é o que diz alguém que acredita nesta teologia, que nada tem a ver com fé, perseverança nas dificuldades e galardão na eternidade. Com os amigos de Jó acontecia algo similar: Todos eles criam que Jó estava sofrendo por causa dele ter pecado contra Deus. Eles criam na doutrina da retribuição terrena, que se resume na seguinte proposição errada: “Se estamos bem com Deus, então não teremos sofrimentos e perdas materiais. Portanto, se estamos em sofrimento e temos perdido coisas importantes é porque estamos em pecado diante de Deus”. Esta proposição reina ainda hoje em muitos crentes. Podemos ver algumas afirmações dos amigos de Jó que sintetizam estas ideias:

Bildade: “Mas, se tu buscares a Deus e ao Todo-Poderoso pedires misericórdia, se fores puro e reto, ele, sem demora, despertará em teu favor e restaurará a justiça da tua morada.” (Jó 8.5-6). Bildade afirma que quem estiver bem com Deus terá restaurada a sua vida “material”.

Zoar: “Se dispuseres o coração e estenderes as mãos para Deus; se lançares para longe a iniquidade da tua mão e não permitires habitar na tua tenda a injustiça, então, levantarás o rosto sem mácula, estarás seguro e não temerás.” (Jó 11.13-15). Aqui Zoar parte do pressuposto que, de fato, Jó é injusto e está em pecado.

Elifaz: “Reconcilia-te, pois, com ele e tem paz, e assim te sobrevirá o bem.” (Jó 22.23). O mesmo pensamento tem Elifaz. Notem também que Elifaz tem um discurso contraditório, pois no inicio fala da justiça anterior de Jó para com os próximos (Jó 4.3-4) e depois fala sobre a injustiça anterior de Jó para com os próximos (Jó 22.7-10).

Contudo, na história de Jó vemos claramente que não era esta a razão do sofrimento de Jó. Deus queria mostrar a sua soberania, o seu poder para tornar o mal em bem, o seu poder para controlar até os designios do inimigo sendo sujeitos a vontade final de Deus e, também Deus queria se manifestar com maior grandeza ainda na vida de Jó. Isto já temos discutido no post anterior.

Mas o que precisamos extrair desta lição é qual é a nossa ideia sobre a forma que age Deus com a humanidade. Muitos crentes se abalam e se desviam da fé por causa de sofrimentos momentâneos que têm nas suas vidas, achando que Deus se esqueceu deles. Outros se encarregam de julgar vidas apenas porque vêm alguns crentes em sofrimento e acham que isso se deve apenas a um castigo de Deus. Não queremos dizer que Deus não possa usar estes meios como disciplina, mas é importante ressaltar que muitas vezes também o justo pode padecer. Temos inúmeros exemplos na Bíblia. Toda a carta de 1 Pedro é um bom exemplo disto. Quero ressaltar o texto que diz: “Pois que glória há, se, pecando e sendo esbofeteados por isso, o suportais com paciência? Se, entretanto, quando praticais o bem, sois igualmente afligidos e o suportais com paciência, isto é grato a Deus. Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos...” (1 Pe.2.20-21). Pedro afirma que fomos chamados para sofrer junto com Cristo. Portanto, não nos apresemos para julgar alguém que está padecendo e diz ser justo diante do Senhor. Consolemos os corações abalados e confortemos vidas que sofrem dificuldades sem reconhecerem uma causa justificada para isso. Também não achemos que uma dificuldade tem a ver com um pecado. Claro que o Senhor usa muitas vezes essas dificuldades para moldar as nossas vidas, mas entendamos assim em primeiro lugar, não acusemos nem a outros nem a nós mesmos se não entendemos no momento a causa do nosso sofrimento. Lembremos como disse João:

“E nisto conheceremos que somos da verdade, bem como, perante ele, tranquilizaremos o nosso coração; pois, se o nosso coração nos acusar, certamente, Deus é maior do que o nosso coração e conhece todas as coisas. Amados, se o coração não nos acusar, temos confiança diante de Deus” (1. Jo.3.19-21).

Que o Senhor nos ajude a não sermos vistos diante dEle como os três amigos de Jó!

Alejandro G. Frank

Base Bíblica para a Vida Cristã

18 comentários:

  1. Achei lindo esse post. Parabéns, Glória a Deus!!!!!!

    ResponderExcluir
  2. Achei lindo esse post. Parabéns, Glória a Deus!!!!!!

    ResponderExcluir
  3. Que estudo edificante! Glórias a Deus!

    ResponderExcluir
  4. Gostei muito desse post me ajudou a entender melhor

    ResponderExcluir
  5. A palavra do Senhor é riqueza e sabedoria, não tem maior prosperidade do que crer e crescer na experiencia com o nosso Pai eterno.

    ResponderExcluir
  6. É errado dizer que os amigos de Jó eram ímpios??

    ResponderExcluir
  7. Me explica porque que os empregados, filhos e animais morreram?
    O que eles tinham a ver com a conversa lá no céu?
    Nunca ví ninguém tentando explicar isso.

    ResponderExcluir
  8. Já li o livro de Jó algumas vezes e e ficava muito intrigada, pois as palavras deles "pareciam" justas, porém se foram repreendidos por Deus continham erros. Finalmente, esse texto esclareceu minhas dúvidas.

    ResponderExcluir
  9. Excelente estudo! Obrigada por compartilhar!!

    ResponderExcluir
  10. 3 João 2 diz;AMADO,ACIMA DE TUDO FAÇO VOTOS POR TUA PROSPERIDADE E SAÚDE ASSIM COMO É PRÓSPERA A TUA ALMA. e PROVÉRBIOS 23:7a PORQUE,ASSIM COMO IMAGINOU NA SUA ALMA, ASSIM É. DEUS TEM UMA VONTADE BOA,PERFEITA E AGRADÁVEL PARA OS SEUS FILHOS,MAS É NECESSÁRIO RENOVARMOS A NOSSA MENTE (ROMANOS 12:12)...QUEM CRÊ VÊ QUEM NÃO CRÊ NÃO VÊ E AINDA FICA USANDO A PRÓPRIA PALAVRA PARA MINAR A FÉ ALHEIA!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Então, quando coisas ruins acontecem é porque a pessoa está em pecado?
      O que é prosperidade?
      A prosperidade também relaciona-se com o ser, aliás, mais do que com o ter, pois existe pessoas que tem, tem, tem e nunca estão satisfeitas.
      Deus é soberano sobre todas as coisas e em tudo ele tem um propósito que, a nosso ver, pode não ser bom, mas como diz a Bíblia, a Sua vontade é boa, perfeita e agradável e, também, em tudo do graças.
      A teologia da prosperidade impede as pessoas de enxergarem a soberania de Deus em todas as coisas, as pessoas estão mais focada na vida aqui na terra do que pensando nas coisas do alto.
      Aqui nos somos peregrinos, estamos de passagem para nosso destino final, a nossa tá prometida, a Jerusalém celestial.

      Excluir
  11. Sim,gostei do exclarecimento muito bem embasado no sentido de buscar a verdadeira posiçao dos tais amigos de jó,e eu nao posso deixar de observar que há varios pastores que usam os textos dos treis amigos reprovados por Deus para fazerem entusiasmadas pregaçoes com teologia de retribuiçao humana.

    ResponderExcluir
  12. obrigado por esclarecer minha dúvida sobre o lado dos amigos de Jó e a reprovação de Deus contra eles.

    ResponderExcluir
  13. Vejo também, por parte dos amigos de Jó, uma mentalidade veterotestamentária na qual acreditava-se Deus castigava o ímpio em vida e abençoava o justo. Isto significa que o justo "nunca" sofrerá e o ímpio "sempre" sofrerá. Eles afirmam também que o homem precisa ser reto "para ser abençoado" por Deus e assim, sutilmente, afirmam a autojustificação por meio das obras. Vejo nestas duas afirmações dos amigos de Jó o real motivo de terem sido criticados duramente por Deus. A doutrina da justificação pela graça, por meio da fé é eterna, portanto já vigorava no AT. Ser contrário a ela se traduz em doutrina antropológica e por consequência diabólica.

    ResponderExcluir
  14. Meu Deus a quanto tempo eu quero entender a história de Jó e ninguém conseguia explicar. Ficavam dando respostas evasivas que não satisfaziam. Finalmente agora eu entendi. Vocês me explicaram. Que Deus continue abençoando vocês.

    ResponderExcluir